Presentation

It can certainly be argued that the democracy's crisis is as old as democracy itself, as Plato's remarks over the Athenian regime so clearly remind us. Or we could recall the discussion held in the eighteenth century between the advocates of representative democracy (as Benjamin Constant), and the proponents of participatory democracy (like Rousseau). Closer to modernity, one could evoke Tocqueville's thorough critique to democracy patent in De la Démocratie en Amérique. However, we shall argue there is a specific crisis of democracy emerging in Western societies since the late sixties of the 20th century, and which resulted, among others, in phenomena such as May 68, the hippie movement, extreme left or right wing terrorism, the lack of civic engagement, the smothering of the public sphere - and, following all this, an ever growing electoral abstention, together with the increasing citizen's disbelief in politicians and their proposals. The role of the media, both "old" and "new", in this decaying process is far from being clear. In the same manner, but more radically, this "crisis of democracy" we're referring holds grey and obscure areas as well. The following objectives are to be taken in account when trying to enlighten this set of problems:

  1. Questioning the concept of "crisis of democracy", while identifying the several dimensions and aspects of such crisis, which is also largely a political and media construction.
  2. Assess the mechanisms, possibilities, simulations and communicative blockages that those who are represented may have when relating to their political representatives.
  3. Define and bound the concept of "quality of democracy", in relation to the representative and participatory aspects of democracy.
  4. Analyze the way how media communication interferes with the quality of democracy, as well as the means to positively enhance that interference.

Abstracts


Reflexos distorcidos ou realidades enviesadas? Partidos e media na democracia europeia

Carlos Jalali (Universidade de Aveiro)

As eleições para o Parlamento Europeu constituem um instrumento democrático central na União Europeia. Contudo, como a literatura tem recorrentemente demonstrado, as eleições europeias tendem a ser dominadas por temas nacionais, servindo como eleições nacionais de segunda ordem. Na medida em que omitem os temas europeus, as eleições europeias geram problemas de transparência e participação na democracia europeia. Nesta comunicação, analisamos o papel dos media e dos partidos nesta dinâmica de eleições europeias dominadas por temas nacionais, procurando avaliar identificar o seu papel neste processo com implicações importantes para a qualidade da democracia europeia.

Para além da crise e da austeridade: entre a construção dos media e a qualidade da democracia

Paula do Espírito Santo

O ponto de partida desta contribuição nasce da interrogação seguinte: de que modo os media têm vindo a ter influência sobre a qualidade da democracia, num tempo global, de crise financeira severa, a qual tem percorrido vários patamares e horizontes democráticos, em múltiplos Estados, desde 2008? Especificando, pretende-se averiguar de que modo algumas das democracias mais afetadas economicamente, em particular da Velha Europa, e entre estas Portugal, Irlanda e Grécia, têm vindo a sobreviver aos impactos da crise financeira, e de que forma a comunidade política reagiu à mudança nos processos governativos. Ou seja, após o turbilhão de reformas e intervenções estatais que revolveram o rumo e sentido democrático de algumas das mais velhas democracias europeias e mundiais, qual o espaço e conceito de qualidade da democracia?
Na sequência da contribuição de Figueiras e Espírito Santo (2016), em Beyond the Internet: Unplugging the Protest Movement Wave, pretendemos focar os moldes de construção e sobrevivência do sistema politico, tendo por base a elite governante, o protesto político e os limites e poderes dos media e da internet. Num tempo de crise e austeridade, os media reforçaram-se enquanto ferramentas de impacte na resolução e impulso nas estratégias de participação política, no quotidiano do protesto e da intervenção pública e política. Contudo, o palco do espaço público, projetado pela crise financeira, permitiu a reinvenção de fórmulas antigas de protesto e de sobrevivência do sistema político, a ponto de se questionar sobre o seu papel na efetividade da redefinição da construção democrática, para além da internet, numa fase da caminhada do processo de democratização, no qual a qualidade da democracia se subentende um conceito de geometria variável. Entre a democracia do protesto pós 2008 e a democracia pós-austeridade permeia uma ponte cuja base de sustentação residiu, em grande medida, na capacidade de continuar a apostar no modelo democrático, apesar da crise, e na reinvenção dos processos de democraticidade associados ao regular funcionamento das instituições democráticas. No que se refere à qualidade da democracia procurar-se-á entender o conceito, fronteiras, proximidades e descrenças e, em particular, moldes de influência dos media sobre a qualidade democrática, num tempo com níveis de exigência e de discussão pública com patamares, cada vez, mais diferenciados de envolvimento e proximidade aos centros de decisão pública e política.

Do debate ao combate: a mediatização da política

José Rebelo (ISCTE)

Recorrendo a Platão, Jacques Rancière enuncia os “títulos” que autorizam o exercício da arkhé (governo da cidade): antiguidade, nascimento, riqueza, virtude, saber. A democracia caracteriza-se, no entanto, pelo facto da condução dos destinos da comunidade - e da regulação do medo e do ódio -, ser entregue a quem não tem “título”. Neste caso, é a ausência de “títulos” que determina o “título” de quem governa e que é obtido por delegação de poder do povo. Com a mediatização da política, nomeadamente através da televisão, o debate, visando o esclarecimento como condição indispensável a essa delegação de poder, é substituído pelo combate. Ao esclarecimento que supõe a troca de argumentos entre sujeitos que partilham o mesmo topos, sucede o duelo que importa vencer. Já não através da argumentação mas através da desqualificação do adversário tornado inimigo. Através do recurso à mentira, à ameaça, ao insulto. E, nas horas seguintes, as sondagens de opinião dir-nos-ão quem ganhou e quem perdeu. A campanha que rodeou o Brexit, e as prestações televisivas de Donald Trump e de Hillary Clinton, nas eleições para a presidência dos estdos Unidos, são exemplo desta passagem.

Comunicação e Democracia: media, rede e poder

João Almeida Santos (Univ. Lusófona)

A política está a passar por mudanças muito profundas. Tudo está a mudar. Todavia, os partidos políticos tradicionais não compreenderam o que está a acontecer. Continuam a fazer política como o faziam desde há muito. A sua componente orgânica continua a ser decisiva na sua organização. Os métodos de selecção dos dirigentes não mudaram face às profundas mudanças trazidas pela web e pelas TICs. Não compreenderam que estamos perante uma afirmação da cidadania mais forte e muito diferente da que as nossas sociedades conheceram até agora. A internet e as TICs estão a revolucionar as relações humanas, as relações sociais, a política e a democracia. A perspectiva comunitarista dominante na visão do mundo das esquerdas tradicionais não tem sentido perante a emergência dos novos “prosumers”, muito activos no espaço digital deliberativo. O domínio absoluto da lógica das grandes organizações na política e na comunicação terminou. O que está a emergir é um novo tipo de poder, o poder diluído, centrado num indivíduo complexo, portador de muitas pertenças ideais e de interesses muito diferenciados, capaz de utilizar com eficácia e rapidez os novos meios (as TICs), seja para mobilizar, seja para organiozar a cidadania em torno de novos projectos políticos.

Contacts

Universidade da Beira Interior
Faculdade de Artes e Letras
Departamento de Comunicação e Artes
Rua Marquês D'Ávila e Bolama
6201-001 Covilhã, Portugal

Phone
(+351) 275 242 023 / ext. 1201